O colegiado do Programa de Pós-graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social, após deliberacão unânime, resolveu adotar o seguinte documento, referente ao incêndio do Museu Nacional da UFRJ.

MOÇÃO DE REPÚDIO

País de tragédias anunciadas, o Brasil assistiu nesse domingo a mais um crime político-administrativo contra a educação, a ciência e a cultura nacionais. O incêndio que destruiu completamente dois séculos de história e de trabalho árduo, apagando traços da memória das inúmeras etnias e comunidades fundadoras que os guardavam, é emblemático das políticas de desmantelamento da identidade do Brasil e dos brasileiros, da violação de seus direitos, da judicialização de seu cotidiano e da violência brutal de elites jurídicas, legislativas e executivas contra a cidadania.

O Programa de Pós-graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social vem assim, a público, manifestar seu inconformismo pela hipocrisia propagada por diversos representantes da administração pública federal (da Presidência da República a ministérios e órgãos de defesa do patrimônio) que se manifestaram através das mídias para apresentar seu “pesar” pelo incêndio, alguns insinuando negligência por parte da UFRJ.

Depois de décadas de demandas responsáveis por investimentos não somente para o Museu Nacional, mas para a universidade que possuiu o maior acervo histórico-cultural do país, os atuais responsáveis político-administrativos pela sua manutenção e preservação a ela só ofereceram cortes violentos de orçamento, uma burocracia insana e bloqueadora de ações levadas a cabo em defesa da UFRJ pela administração universitária, e um descaso que só poderiam ser considerados crimes contra o Brasil. Esse Brasil de recordes da elite político-administrativa não apenas destruiu seu maior acervo científico-cultural, mas tem se calado diante do assassinato anual de mais de 60.000 brasileiras e brasileiros sem contar os que se foram pelo retorno de inúmeras doenças antes eliminadas ou descaso em hospitais abandonados, além de ter ativamente congelado os gastos públicos por duas décadas e entregue parte das riquezas minerais do país para a exploração de empresas estrangeiras.

Nesse sentido, manifestamos publicamente nosso repúdio à classe jurídico-legislativo-executiva que nos levou a esse estado de coisas, e àqueles e àquelas que se manifestam pelas mídias buscando culpabilizar instituições que, como a UFRJ, ainda têm o brio e a coragem de lutar por justiça e denunciar a destruição progressiva do Estado brasileiro.

Rio de Janeiro, 3 de setembro de 2018.