Um pouco de história…
A psicossociologia surge na Europa inspirada em estudos da psicologia social, com uma perspectiva psicanalítica e desenvolvimentista e, também influenciada pelos estudos sociológicos de dinâmicas grupais. Embora na América Latina a psicossociologia tenha inicialmente seguido os rastros daquela de origem européia, destacadamente a francesa (e posteriormente também a estadunidense), há que se apontar a relevância da psicologia social crítica neste contexto que floresce com a crise da psicologia social e a Reforma Psiquiátrica nos anos de 1960′ e 1970′, historicamente constituída na América Latina como Psicologia Sócio-Histórica, com Silvia Lane (PUC/SP), e como Psicologia Comunitária Latino-americana, tendo como referência Martín Baró e Maritza Monteiro. Este levante contou fortemente com o diálogo produzido por outros movimentos críticos da época, como a Pedagogia Crítica de Paulo Freire e a Pesquisa Ação-Participante de Orlando Fals Borda, delineando nitidamente a psicossociologia como um campo interdisciplinar de conhecimento (Takeiti, Costa, Pardo, Miranda e Tovar, 2021).
Assim como muitas outras áreas do conhecimento, também a psicossociologia se caracteriza enquanto um campo em construção.
Lembrando Latour, o social não é um estado de coisas estanques, de modo que as explicações científicas modernas já não dão conta de abranger o social na atualidade, por isso, segundo o autor, é preciso remontar o “significado primitivo de social”, rastreando os atores nas conexões entre coisas que não são sociais em si mesmas. Isso nos faz pensar que não existe uma essência no que se tem chamado de social, muito pelo contrário, esse é um elemento volátil e compósito” (CÍCERA PINHEIRO BATISTA PAULO DOURIAN PEREIRA DE CARVALHO, Cronos: Revista da Pós-Grad. em Ciências Sociais, UFRN, Natal, v. 22, n. 2, jul./dez. 2021, ISSN 1982-5560, 122).
Sendo isso que chamamos de social um campo em construção, o PPG EICOS participa desde sua origem da de disputas de em torno do tema. Desta forma, vem se colocando em diálogos e encontros com produções e delineamentos de diferentes problemáticas, apontadas por Freire, Martín-Baró, Monteiro e outras vozes como sendo problemáticas nascidas da experiência geopoliticamente localizada como latinoamericana. Nos interessa, portanto, não o recorte de autores ou fontes de produção teórico-metodológica que se constituam em estratégias excludentes de outras produções mas, ao contrário, ampliar o campo de visão, alargar a base, colocar em conversa as contribuições que dialogam com nossas problemáticas.
“Nas últimas décadas, a psicossociologia vem se constituindo e se consolidando a partir de produções próprias, enquanto campo de conhecimento inter e transdisciplinar dentro da grande área das Ciências Sociais e Humanas”(Takeiti et al, 2021). . Nesse sentido, entendemos, assim como Takeiti e colaboradoras, que são múltiplas as psicossociologias possíveis. Deslocamos nossa aposta para uma certa psicossociologia, apoiada nos estudos de comunidades e ecologia social. Uma psicossociologia, portanto, com comunidades e com ecologia social, voltada para a composição de saberes e tecnologias que venham ao encontro dos problemas contextualizados e localizados na experiência dos países latinoamericanos, tanto em sua diversidade cultural e geopolítica, quanto em suas confluências enquanto povos colonizados. Neste sentido, também assume o estudo das relações coloniais desde uma perspectiva contra hegemônica. Interrogar a psicossociologia nos exige movimentações contra hegemônicas.No campo dessa Psicossociologia, defende-se a reorientação dos processos interventivos, bem como formulações psicossociológicas sentipensantes em consonância com as demandas da conjuntura atual. O Programa propõe perspectivas teórico-metodológicas nas quais a Psicossociologia não seria uma ciência “de” comunidades, mas sim “com” comunidades, de modo a abarcar as diferentes influências existentes nas interações comunitárias. Portanto, essa se coloca como uma das psicossociologias possíveis, e propõe a refletir sobre uma lógica contra-hegemônica e descolonizadora ao caminhar por trilhas suleadoras, sentipensantes e libertadoras. Nesse sentido, reforçamos que uma “Psicossociologia com comunidades” deve se empenhar em fortalecer os encontros e promover confluências, engendrando processos de produção coletiva de conhecimentos contextualizados e críticos sobre as realidades comunitárias (Renaud, Pelacani, Costa, Faria e Miranda, 2021).